11 de fev. de 2009

Da Solidão

“Para me amar é preciso amar primeiro a minha solidão”. Rubem Alves escreveu esta frase no conto “Barbazul”, um dos textos do livro “Cantos do Pássaro Encantado”. Quando li me senti emocionada, como que minha alma fosse acariciada.

Pois bem. Nesse texto, o grandioso Rubem Alves narra a história de Barbazul, um homem de muitos amores e que só permitiu que uma mulher adentrasse em sua vida com plenitude, quando descobriu que ela o respeitaria em seus momentos de solidão. Respeitaria os momentos em que ele ficasse a sós com seus discos e filmes. Quando ele quisesse parar e refletir sobre a vida ou apenas admirar o nascer do sol ou a calmaria de uma tarde no campo.

Mas o fato é que esse texto veio corroborar o que eu há muito já acreditava e sonhava para minha vida. O “Barbazul” me fez refletir sobre os relacionamentos que tenho presenciado. Às vezes, as pessoas não são movidas pelos ciúmes do parceiro, em virtude do medo de sabê-lo nos braços de outrem. Mas é o medo da felicidade do parceiro que as invade por completo. Medo de sabê-lo feliz lendo um livro, de saber que existem amigos que o divertem ou que outras pessoas possam sentir o brilho do seu sorriso, do mesmo modo que ela o percebeu. Medo da atenção compartilhada, de imaginar mesmo de longe, que ela pode estar feliz através de outros meios que não seja a sua companhia.

Ou ainda, por outro lado, o desrespeito em relação aos momentos de tédio que todos passam. Aqueles momentos em que o parceiro fica taciturno, mergulhado em perguntas sem respostas, avesso a festas e comemorações.

Talvez seja a partir desse ponto que o relacionamento vai mitigando. Pelo desrespeito à individualidade do outro, e, notadamente pelo desrespeito à sua solidão. Solidão esta que deve ser enxergada como algo positivo, e não como um fardo, já que é temida pela maioria das pessoas.
Ora, alguns preferem se curvar a um relacionamento frustrante e tormentoso a imaginar-se sozinho. É o pior de tudo é não saber que a pior sensação não é estar desacompanhado, mas sim, estar só, pesadoradamente só, em meio a multidão. Estar só mesmo acompanhado e temendo estar desacompanhado por não se suportar. É a sensação de se sentir “uma prateleira repleta de frascos vazios”, como acertadamente escreveu Fernando Pessoa.

Mas, com efeito, devemos admitir que atravessamos a vida toda sozinhos. Nascemos e morremos sozinhos. Nunca teremos certeza se alguém nos acompanhará pela vida toda. Então, o ideal é aceitar a solidão como algo inerente à nós mesmos, e a partir desse raciocínio, buscar realizar nossos sonhos e resolver as adversidades com garra, sem depender tanto dos outros, na medida do possível, é claro.

4 de fev. de 2009

Sobre certezas e dúvidas

Vivemos sob o reino das certezas e é esse legado que a ciência moderna tem nos deixado sobre o mundo. Nunca soubemos mais sobre mundo do que sabemos agora. Sabemos de que elementos são constituídos todo e qualquer material, quantos anos tem o universo e que o mesmo está em expansão acelerada. Sabemos que existem 17 bilhões de insetos para cada pessoa. Mas, será que saber tudo isso nos orgulha? Tudo porque somos os únicos animais com a capacidade de refletir sobre nós mesmo?

Ora, as nossas certezas são currais onde as preocupações ficam presas. É que presas elas não oferecem perigo e não saber é muito angustiante. Um turbilhão de questionamentos nos inquieta nossa vida tão frágil. A que horas os ônibus vai passar? Eu aplico na bolsa ou compro imóveis? Fazemos uma viagem ou nos divorciamos?

Contudo, a certeza nos engessa, nos algema em eternas rotinas, afinal, por que mudar, se desse modo, tudo vai terminar bem? As certezas nos amaldiçoam ao criar padrões para o nosso cotidiano, fazendo da nossa vida uma equação matemática chata.

Saber, ter certezas, nos faz sentirmos seguros e nos ajudam a fazer planos. Certezas nos deixam navegar num oceano calmo livres das tempestades da dúvida. Certamente um homem cheio de certezas dorme bem melhor à noite, mas, um homem cercado de dúvidas vive bem melhor durante o dia.

Em 1927, Werner Heisenberg, o controverso físico alemão, talvez o maior depois de Einsten, postulou o “Princípio da Incerteza”, uma idéia segundo a qual é impossível medir simultaneamente e com precisão absoluta a posição e a velocidade de uma partícula, isto é, a determinação conjunta do momento e posição de uma partícula. Este princípio teve repercussão filosófica enorme, pois rompia com a idéia determinística de mundo e nos introduzia num mundo probabilístico, onde acontecimentos tinham apenas grandes possibilidades de se realizarem, mas, era impossível sermos envolvidos pela certeza. Heisenberg nos devolveu a emoção de viver. Nos colocou de novo no mesmo sentimento do homem das cavernas, nos trouxe de volta a vocação humana de navegarmos num mar de imprecisões e erros, nos chamou de volta ao nosso corpo o espírito do qual nos tornou o que somos, qual seja, seres atormentados pelo imprevisível.

Ter dúvidas nos move, nos faz buscar soluções. Ter dúvidas faz criar caminhos. Duvidar faz a nossa vida miserável e monótona valer a pena. Quem tem dúvidas não se paralisa. Sócrates tinha horror a certezas, por isso sempre declarava que a única coisa que sabia e que não sabia nada. Não me estranha o oráculo de Delfos ter declarado ele o mais sábio dos homens.

A dúvida nos premia com pureza de intenções, pois sem certezas o espírito julga sem pressões ou preconceitos. O Humberto Gessinger, líder e letrista da banda “Engenheiros do Hawaii” pensa de forma semelhante a minha, pois escreveu em uma das suas canções. Eu posso estar correndo pro lado errado, mas a dúvida é o preço da pureza e é inútil ter certeza.”

Termino este texto com muitas dúvidas sobre escrever mais sobre isto. Tenho uma certeza e é a mesma de Descartes, o “pai de um método científico”, esse tipo de questionamento lhe assombrava. “A dúvida nos possibilitava um núcleo de certeza... Se duvido, penso”

 
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