22 de out. de 2008

Quando o simbolo muda de Casa

É impressionante como tudo, como diria Lavousier, se transforma. As coisas não morrem elas apenas mudam de casa, os símbolos mudam de casa, cada vez me convenço disso. Perdi meu avô ha pouco mais de um mês e a dor dessa ausência definitiva é desesperadora no início, mas, o tempo funciona como um anestésico lento, que não alivia a dor, mas a distrai.

Ele era velho, morava sozinho e passava horas do dia sentado na sua varanda, eu o via pouco, mas, sempre que ia a Lagamar o visitava. Pedia a benção, fazia algumas brincadeiras e me sentava ali do lado dele, ele tinha a bíblia na mão quase sempre, eu ficava ali do seu lado e ele lia longos trechos para mim, na verdade eu não me preocupava em entender nada eu só queria me mostrar interessado em ouvi-lo, no fundo é isto que importa, as pessoas querem ter atenção das outras, se sentirem importantes.

Quando vovô morreu, eu pedi a sua bíblia para mim, me foi dada, ela tem a capa preta e de uma tradução é evangélica convencional e tem muitas folhas soltas e precisa de uma reforma. Pegar essa bíblia me fez chorar, no fundo eu senti a dor dessa transferências dos símbolos do meu avô Alinhar à esquerdacomo o conheci e que agora já não existe mais, é doloroso o fim de um símbolo. Ele não é nada mais para mim que a Bíblia agora, esse amontoado de letras sagradas. Na verdade ele não é a bíblia física, ele é alma daquele livro, não pelo fato de ser a bíblia, mas, poderia ser qualquer outro livro. Ela se tornou uma testemunha dos nossos encontros, dos momentos intensos que passamos juntos, só nos dois. Nunca mais verei seu rosto maltratado pelo tempo e pelo câncer. Seu rosto agora é feito de letras, de canções, de promessas sagradas. Eu toco a capa como se tocasse seu rosto e gostaria de acariciá-lo, gostaria de niná-lo como a uma criança de quem eu pudesse cuidar.

Eu olho pra ela e ainda posso ouvir a sua voz trêmula e as explicações espirituais convictas que ele tentava me transmitir, lembranças são crianças brincado de se esconder atrás de uma árvore de vez em quando elas aparecem para nos dar sustos. Tento me lembrar dele de quanto morava na fazenda e ainda fazíamos rapadura e sinto o cheiro da garapa um suco de cana muito gostoso. Aquela casa na fazenda faz parte tanto dos meus sonhos quanto dos meu pesadelos, é impressionante o contraditório.

Eu tenho uma certeza, eu vou sentir saudades, este sentimento impossível de se traduzir, sinto que a terra cobriu uma parte muito importante da minha história e eu, eu sou como tudo neste mundo, eu passo.

 
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