13 de jan. de 2009

A beleza da dor




Em 2001, Erick Refner ainda um estagiário no Jornal Berlingske Tidente da Dinamarca, resolveu cobrir a situação dos refugiados do Afeganistão, que à época era pouco comentada.

Conforme contido em seu próprio depoimento, o jornalista esteve em um campo de refugiados perto da cidade paquistanesa de Peshawar, próximo à fronteira com o Afeganistão, onde permaneceu por aproximadamente duas semanas. Ali havia cerca de 90 mil refugiados, tanto por conta da situação política, quanto pela seca no norte afegão.

Certo dia, soube que havia morrido um menino de um ano de idade no campo. A família, então, foi à barraca da “ONG Médicos Sem Fronteiras” e solicitou um abrigo branco e uma lápide.

De acordo com a tradição, são os homens que preparam o corpo do infante para o sepultamento. Neste caso, era o pai do bebê, o irmão e uma irmã. São estes os braços que dá para ver na imagem.

Naquela ocasião, Erick após dar os pêsames à família, perguntou se poderia tirar fotografias. E assim agiu o fotógrafo. Não obstante o fato de se encontrar em uma situação difícil, já que a família estava muito emocionada e ainda podia-se ouvir mulheres chorando em outras tendas, Erick Refner obteve êxito em seu propósito, sem ser hostil aos sentimentos daquela infeliz família.

Posteriormente ao término do preparo do corpo, todos saíram da tenda e os homens o carregaram por cerca de 2 km para um cemitério fora do campo.

A foto foi a vencedora do World Press Photo de 2001. Os juízes do World Press Photo descreveram a imagem como “simbólica e icônica”. E de fato é uma imagem muito marcante. Simples, mas, dotada de muita força.

De acordo com os dizeres do próprio Erick Refner: “Tem o grande contraste entre o manto branco e os braços escuros. A criança parece ter um pequeno sorriso no rosto, como se finalmente tivesse conseguido ir a um lugar melhor.Também tem o fato de que são pessoas de mais idade enterrando uma criança, deveria ser o oposto. Tem muito simbolismo nesta imagem. Tudo isso a torna muito poderosa.”.

Mas a Fotografia, como arte, realmente tem esse poder. Captar o sentimento do momento. Demonstrar que uma cena pesadoradamente triste pode ser enxergada, com a captura daquele momento fatídico, como algo dolorosamente belo. É que a beleza também existe nas situações tristes. Como certa feita proferiu Pierre August Renoir: “A dor passa, mas a beleza permanece.”.

 
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